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A AUTOETNOGRAFIA NO PREPARO DA SONATA III PARA VIOLÃO DE MANUEL MARÍA PONCE
Última alteração: 2019-08-12
Resumo
O preparo de repertório e suas demandas ao intérprete vem sendo profusamente estudados na recente linha de pesquisa de práticas interpretativas, sendo que muitos de seus pesquisadores são também intérpretes. No entanto, percebe-se uma dificuldade em obter certas informações para o trabalho científico, por seu caráter íntimo ao fazer artístico. É nesse contexto que o uso da autoetnografia, ferramenta que contempla a individualidade do pesquisador/performer ao inseri-lo como objeto e observador científico simultaneamente, busca coletar dados que não estariam disponíveis sem uma vivência interna ao objeto de estudo. A presente pesquisa busca, por meio do contraponto entre a autoetnografia aplicada à performance e o feedback externo de especialistas, registrar o processo de estudo ao violão da Sonata III do compositor mexicano Manuel María Ponce (1882-1948) para uma situação performática. Ao documentar o preparo da peça levando-se em conta suas dificuldades características, o mecanismo autoetnográfico através de um “diário reflexivo” e o feedback externo de avaliadores, busca-se avaliar a influência dos métodos “internos” e “externos” ao estudo diário no resultado artístico final. Para tanto, o preparo da obra realiza-se por meio de duas perspectivas: a primeira diz respeito à autoetnografia e visa obter dados importantes ao processo científico que não são palpáveis ao observador externo, conjugando-se na redação de um “diário reflexivo” durante o processo de estudo e na união entre observador e intérprete num mesmo performer/pesquisador; já a outra refere-se a dados externos ao estudo e influentes no fazer artístico, consolidando-se com uma gravação da obra, entregue a profissionais da área não vinculados à pesquisa em busca de um feedback imparcial e qualificado. Após mais um processo de estudo, realiza-se uma gravação definitiva e da comparação entre esta e a anterior avalia-se a interferência de ambas as perspectivas no resultado final. Por meio da análise dos materiais nota-se que a autoetnografia foi relevante não apenas para a documentação das interações “internas” ao estudo, pois vários eventos de caráter “externo” ao cotidiano do preparo da obra (como ideias advindas de vídeos de outras interpretações, aulas assistidas na universidade e Masterclass) puderam ser devidamente registrados e ponderados, resultando em uma experiência de estudo mais rica, disciplinada e autoconsciente.
Palavras-chave
Performance Musical; violão; autoetnografia.