Tatuaje (CCD, 2015) é uma narrativa digital que apresenta ao leitor o desafio de desvendar os acontecimentos em torno de um crime. Dessa maneira, ela dialoga com duas tradições literárias: uma que pode ser considerada uma gênero, que é o gênero policial, com suas raízes mais remotas no século XVIII e consolidação definitiva na primeira metade do século XX; uma que está ainda em vias de consolidação, a literatura digital, com suas raízes remotas na segunda metade do século XX e seu destino ainda incerto, ainda que já tenha um campo de estudos construído em seu entorno, obras consideradas como “clássicas” e algumas periodizações estabelecidas. Dessa forma o projeto desenvolvido aborda Tatuaje considerando a sua relação com essas duas tradições. Os resultados que aqui se apresentam provêm do percurso a seguir: contextualização da obra dentro da tradição do gênero policial, contextualização dentro da história e da teoria da literatura digital, interpretação da obra considerando a sua forma e conteúdo relacionadas aos dois itens anteriores. Assim, concluiu-se que: 1) a obra se insere na tradição do gênero policial em que se deixa a proposta de resolução de um “mistério” desde a perspectiva centralizada em um investigador de inteligência superior; em vez disso, a obra retoma as características que passam a se fazer sentir na tradição da segunda metade do século XX, na qual a natureza humana (impulsos, desejos, ambição etc.) e as mazelas sociais passam a ter um papel importante na construção dos personagens e do enredo; 2) na história da literatura digital, a obra se insere na tradição surgida nos anos 90, da narrativa hipertextual, baseada na interação do leitor por meio do clique em links, que irão determinar o seu percurso dentro do mundo ficcional estabelecido pela obra, demandando diversas leituras, percorrendo os diferentes caminhos da arquitetura hipertextual se ter uma noção da totalidade das possibilidades narrativas contidas na obra; 3) Pelas duas conclusões anteriores, se constata que o autor trabalhou no sentido de fazer convergir as possibilidades formais e interativas da tradição hipertextual com as características da narrativa policial.

Palavras-chave: Literatura Digital. Literatura Policial. História.