Iniciação Científica (PIC) e Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), V EAIC e II EAEX

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A VERDADE CÊNICA E A VOZ ATORIAL: TESSITURAS HISTORIOGRÁFICAS ENTRE O TEATRO E O CINEMA
Ricardo Di Carlo Ferreira

Última alteração: 2019-08-07

Resumo


A pesquisa ora apresentada desenvolveu-se por meio da metodologia de revisão bibliográfica e tem por objetivo realizar um estudo sobre as constantes mudanças históricas de abordagem no tratamento da voz do ator, a fim de se elucidar os paradoxos de entendimento da voz cênica nos dias de hoje. Para tanto, realizou-se um breve e resumido rastreamento histórico de alguns dos postulados fundamentais que delinearam a oralidade do atuante para a compreensão do status que a expressão vocal possui hoje a partir da investigação sobre como se deu a tessitura historiográfica da imbricação entre a voz atorial e a “verdade cênica” – conceito que vai de encontro ao entendimento da atuação mecânica, promulgado pelo russo Konstantin Stanislavski, que se alastrou pela história da cena com antecesserores praxiológicos equivalentes – requerida, principalmente, no entre-lugar de atuação do intérprete cênico: o do teatro e do cinema. Sabe-se que na Antiguidade, a formação do ator era calcada na expressão vocal, pelo fato de que a encenação estava atrelada a valorização da palavra. Instalou-se, assim, historiograficamente uma tradição declamatória tributária a literatura, que foi transmitida ao longo dos anos pelos tratados de dicção, que procuravam ditar os modos de enunciação do texto cênico. As mudanças da oralidade atorial e até mesmo a repulsa pelo estilo declamatório foram inscritas por meio desses tratados na busca de concretizar a verdade na cena buscando imprimir na voz os novos rumos da encenação dramática. Pontua-se que o palco (fosse, nos edifícios teatrais ou na rua) era o local predominante de atuação do ator até esse momento da história, visto que somente no início do século XX há o advento da arte cinematográfica e, que a voz do ator demorou certo tempo a ser integrada a sétima arte. Foi neste mesmo século que há a insurgência de vanguardas teatrais, que propunham o abandono do textocentrismo transpondo o foco do trabalho/formação do ator, da voz para o corpo. Por conta disso, constata-se nos marcos do presente performances atoriais aquém de um trabalho profissional, sem verdade cênica. Ao dizermos que a supremacia textual é obsoleta, não equivale a minorar a importância da voz falada nos processos comunicacionais da cena. Ao contrário! A voz é parte do corpo, ainda que não enunciada. Bem como, a verdade cênica em atuação, impõe a verdade do ator que atua, presentificado pelo corpo-voz, seja no teatro ou no cinema.