Última alteração: 2017-08-11
Resumo
Motivada pela constatação de que o cinema é um território machista, violento e opressor às mulheres, esta pesquisa volta-se à produção da cineasta contemporânea brasileira Petra Costa, que nos aponta uma possibilidade de escuta das vivências femininas (marcadas por tentativas de silenciamento, desautorização, minorização), objetivando a correlação das propostas artísticas desta diretora com a dimensão de uma invenção de si, tanto como singularidade, quanto como coletividade das experiências femininas, em toda a sua multiplicidade.
Dessa forma, a pesquisa consiste numa análise das escolhas estéticas e da linguagem fílmica recorrentes nas obras “Olhos de Ressaca” (2009), “Elena” (2012) e “Olmo e a Gaivota” (2014), que formam juntas a produção filmográfica mais significativa de Petra, ainda recente mas de grande reconhecimento.
Como resultados, pudemos notar no tocante à linguagem escolhida pela diretora, a recorrência da primeira pessoa, ao uso de material de arquivo, reencenações, construções fictícias, trilha sonora, entrevistas e edição videoclipada. A câmera não se preocupa em demonstrar/desenhar a realidade, mas em tentar deixar transparecer as sensações de maneira sinestésica, o que resulta no fluir de diferentes texturas e camadas materializadas na tela. Ademais, os resultados também apontam para a construção de uma ética-estética da existência, uma vez que seus filmes sinalizam a busca por uma narrativa de si, na condição do escancaramento da experiência feminina, o que lateja o desejo de uma (re)invenção de si por meio de uma tessitura da vida na obra de arte e como obra de arte.
Entendemos, portanto, que o cinema de Petra Costa consiste numa proposta artístico-cinematográfica que desterritorializa a sintaxe fílmico-documental hegemônica, tanto porque ousa dizer-se pelas bocas das mulheres e/ou a partir de suas experiências, quanto porque ramifica estética e politicamente os poderes instituídos da linguagem cinematográfica.