Iniciação Científica (PIC) e Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), III ENCONTRO ANUAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNESPAR

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FABRICAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO: JÚLIA DA COSTA, A MEMÓRIA, A HISTÓRIA E O CAMPO LITERÁRIO
Ana Flávia Silva

Última alteração: 2017-10-17

Resumo


O presente artigo tem como objetivo analisar a construção da personagem Júlia da Costa (1844-1911) a partir das apropriações regionalistas tanto ocorridas no âmbito da localidade de Paranaguá, no Paraná (cidade de nascimento) quanto àquelas criadas na esfera discursiva de São Francisco do Sul, em Santa Catarina (local onde a poetisa passou grande parte da sua vida). Constatamos através da pesquisa documental, que existe um consenso interpretativo a respeito de Julia da Costa, advindo sobretudo do campo literário. Nesse sentido, a obra de Rosy Pinheiro Lima, denominada Vida de Júlia da Costa, concorreu para elevá-la como personagem do panteão cultural paranaense. Esta criação, que se deu após a emancipação de São Paulo, fabricou uma memória acerca de Júlia da Costa como sendo uma moça romântica, intelectual vítima de dissabores amorosos.  A porta de entrada para a criação da personagem foi uma identidade de gênero feminino vinculado a afetividade e as emoções. As análises de Carlos da Costa Pereira, na obra Traços da Vida da Poetisa Júlia da Costa, reproduziram essa discursividade reforçando o enredo romântico. A personagem é forjada no trânsito entre produção poética, escritos de folhetins, e também no protagonismo de festas destinadas a uma elite local da localidade de São Francisco do Sul. Esse recurso também demonstra uma resposta às produções paranaenses que culpabilizavam figura catarinense do Comendador Costa Pereira, cônjuge de Júlia da Costa, pela tristeza retratada em suas poesias e também pelo recolhimento de sua vida privada no fim de sua vida. Recurso que valoriza a personagem catarinense junto ao publico local. Através do conceito de Linguagem Autorizada desenvolvido pelo sociólogo Pierre Bourdieu faz-se possível localizar nesses conflitos de memórias regionais, o movimento Paranista – que procurou através de símbolos e personagens incorporar uma personagem feminina ao projeto de criação de um panteão cívico intelectual paranaense. Conclui-se que o imaginário social molda a personagem de acordo com suas conveniências, e que as falas que dão consistência à personagem consolidada estão envoltas em estereótipos de gênero, regionais e também de seu tempo.

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