O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a sonoridade do LP Transa, de Caetano Veloso (1972), com dois objetivos específicos: identificar as citações e referências musicais presentes no álbum e comparar a sonoridade do Transa com a da MPB dos anos 70. Nesse contexto, o LP era majoritariamente pensado como uma unidade ─ não apenas um suporte, mas uma forma artística, como coloca Lorenzo Mammí (2014). As canções estavam ligadas à sonoridade específica do disco, que envolve elementos musicais e o contexto sócio-musical-afetivo em que a música se insere, incluindo valores, símbolos e sentidos que circulam nesse meio (TROTTA, 2008). A MPB que começou a se estabelecer no final dos anos 50 seguiu nos anos 60 em duas principais vertentes: a da canção de protesto e a do tropicalismo, que ganharam destaque no diversos Festivais de Música Popular Brasileira. Embora partes da MPB tenham negado muitas das propostas tropicalistas nos anos 60, a década seguinte viu o surgimento de diversas manifestações que abraçaram as mudanças trazidas pelo movimento. A fundamentação teórica do trabalho se fixa no trabalho de autores dos Estudos de Música Popular, como Phillip Tagg (1982), que propõe que a análise de música popular não deve se basear somente na notação, e sim na determinação de significado musical dentro de seu contexto. Outro autor importante é Robert Walser (2003), que traz conceitos como a atenção a valores e a bifocalidade de perspectiva, que fundamentam a metodologia utilizada para análise do álbum através da audição. Os resultados indicaram que o LP Transa apresenta procedimentos que o tornam únicos no campo da MPB do começo da década de 1970, sobretudo se comparado com álbuns contemporâneos de outros artistas desse contexto. O álbum foi construído na união de universos distintos, que incluem a música brasileira de Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga e João Gilberto, a música pop dos Beatles, as canções de roda de capoeira, a música caribenha e a poesia de Gregório de Matos. Diferente da sonoridade do samba de Chico Buarque, da sonoridade jazzística de Elis Regina e do misto de jazz, rock e música rural de Milton Nascimento do período, o disco Transa consolida a proposta tropicalista antropofágica e traz uma sonoridade pop que, anos depois, se tornaria hegemônica na MPB.