O objetivo desse estudo é comparar as representações de Lúcifer nas obras do escritor florentino Dante Alighieri (1265 – 1321) e do pintor Giotto (1267 – 1337), apontando suas semelhanças e diferenças, considerando o contexto histórico e cultural da Florença medieval, mais especificamente entre o final do século XIII e início do século XIV. Os procedimentos metodológicos partiram da pesquisa bibliográfica em livros e artigos sobre as obras de Dante e Giotto, assim como sobre o período de atuação dos dois artistas. A partir destas pesquisas, a análise foi realizada a partir de comparações entre as imagens do Juízo Final na Cappella dell’Arena (ou Scrovegni, 1305 – 1307), do mosaico do Batistério de Florença (1270 – 1290) e outras imagens da iconografia do Satanás medieval com as representações do diabo na Divina Comédia (1304 – 1321) de Dante Alighieri. O Diabo é uma figura de extrema importância no cristianismo medieval; sua finalidade era educar moralmente os fieis e por conta disso sua imagem sofreu diversas mudanças no decorrer da Idade Média. Tanto a Divina Comédia de Dante quanto as pinturas de Giotto na Capella dell’Arena sofreram influência do mosaico de Coppo di Marcovaldo no Batistério de Florença. Segundo uma tradição historiográfica que remonta a Vasari, Dante e Giotto teriam sido amigos, o que determinaria uma influência mútua nas suas representações do Diabo e do inferno na Comédia e da Capela Scrovegni. Contudo, há diferentes linhas de pesquisa que desacreditam a amizade entre os dois artistas. O Diabo em Dante é o não-ser, é uma criatura enorme, imóvel, gelada e hirsuta que se encontra no último círculo do inferno; possui três pares de asas de morcego e três faces que mastigam três traidores célebres: Judas, Cássio e Bruto. Já em Giotto, Satã está no centro do ambiente infernal, possui um rosto que morde um pecador enquanto duas serpentes saem de suas orelhas e mastigam mais dois errantes. Tanto Dante quanto Giotto apresentam características iconográficas em comum com Coppo di Marcovaldo, mas divergentes entre si. A partir do que foi posto, conclui-se em favor da maior probabilidade de que ambos artistas florentinos não tenham se conhecido pessoalmente e que suas inspirações para a iconografia diabólica tenham vindo de outros artistas, como Coppo di Marcovaldo.