A filosofia de Epicteto (55-135 d.C.) foi de suma importância na formação do pensamento sobre a arte de viver no Ocidente, porém ao longo do tempo suas ideias foram marginalizadas. Sua filosofia pode ser entendida como uma ferramenta que capacita o homem a lidar com os acontecimentos de modo a compreendê-los e administrá-los. Desse modo, uma de suas máximas esclarece ao homem a postura que se deve adotar diante do mundo: cuidar somente do que se pode modificar. Neste projeto buscaremos responder a pergunta: a partir do pensamento de Epicteto, como nos relacionamos com o que não podemos modificar, tendo em vista uma vida virtuosa e livre? É a partir da leitura e análise da obra Encheiridion que os argumentos deste projeto serão construídos, contudo, considerando a formação filosófica de Epicteto enraizada no estoicismo e seus argumentos apoiados nas ideias do Pórtico, torna-se necessário, introdutoriamente, apresentar as teses fundamentais desta corrente de pensamento iniciada em Atenas por Zenão de Cício entre os séculos III e II a.C. Compreendemos que a crença na Inteligência Divina (personificada pelo fogo artífice) conduzindo à perfeição universal tudo o que há no cosmosdesperta na estoico a certeza de que nada acontece sem uma finalidade a esse projeto maior da Natureza. Nesse sentido, o que não podemos modificar diz respeito aos acontecimentos desagradáveis que este estoico vivencia no cotidiano e que a paixão naturalmente o impelia a evitá-los. Não se pode modificar porque, num primeiro momento, é desígnio da Natureza e, também, muitos são evidentemente inalteráveis ao homem, como a morte e as doenças. Assim, cuidar do que se pode modificar se refere às percepções dos acontecimentos, que podem lhe ser favoráveis, através do cultivo de representações compreensivas sobre estes, conduzindo o homem ao prêmio máximo que é a felicidade.