Iniciação Científica (PIC) e Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), III ENCONTRO ANUAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNESPAR

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A tecelã de mitos: poesia e imaginário em "Hídrias", de Dora Ferreira da Silva
Nathália Prestes Da Silva

Última alteração: 2017-08-05

Resumo


Em um mundo “desmitologizado”, como aponta Campbell (1990), o contato com o sagrado, no sentido de realizar-se uma volta aos nossos tempos primordiais, é uma das alternativas que possuímos para que se consiga, de alguma maneira, compreender a nossa condição humana. Este projeto visou fazer um estudo da obra em verso da escritora Dora Ferreira da Silva (1918-2006), considerando os expedientes poéticos na feitura dos poemas e a relação mito/poesia na obra Hídrias (2004). A obra é composta por vinte e cinco poemas que, segundo Rocha (2009), possuem a temática grega de maneira mais intensificada, comparada às demais produções do mesmo gênero produzido pela autora. Para tal, o projeto fundamentou-se em teorias do texto poético (PAZ, 1956; DURAND, 1996), em teorias sobre mito, arquétipo e imaginário, seus aspectos filosóficos, estéticos e suas reverberações na poesia (BACHELARD, 1997; CAMPBELL, 1990; ELIADE, 2002; DURAND, 1996). Buscou-se contribuir para os estudos acerca da obra poética da autora, as relações entre literatura e mito e para os estudos de literatura de autoria feminina brasileira contemporânea.  No corpus escolhido para análise, que consiste em seis dos vinte e cinco poemas que compõem a obra, concluiu-se que Dora retratou alguns mitos a partir de um resgate de características essenciais e, além disso, tanto reinterpretou-os quanto criou mitos próprios. Narciso, por exemplo, em dois poemas (ambos homônimos) contidos na obra, é mostrado o mesmo momento em que ele vê seu reflexo na água, como forma de intensificar a condição de superficialidade em que o ser humano vive (FREITAS, 2016, p. 8). Já Orfeu, referenciado no poema “Órfica”, a autora se centrou na característica de vate que Orfeu tem segundo a mitologia grega, para construir um metapoema que mostrasse todo o processo árduo do fazer poético. Em dois poemas, de nome “Hyacinthos”, o tema do ciúme é abordado ao falar no momento da morte de Jacinto, amado de Apolo. Além disso, Dora também constrói um mitologema original, retratado no poema “À Tálida”. A pesquisa confirmou a hipótese inicial do projeto, quanto à recorrência dos mitos na obra de Dora Ferreira da Silva, e notou a presença de mitologemas; além disso, apontou para a poetisa que, no papel de vate, utilizou o primordial para cantar, na contemporaneidade, o “eterno retorno” que a lírica realiza em direção a uma remitologização como aspecto atemporal da condição humana.


Palavras-chave


Poesia brasileira contemporânea; Dora Ferreira da Silva; Mito.