Última alteração: 2017-08-04
Resumo
Adriana Lisboa estudou música e literatura, é conhecida, principalmente, por sua prosa que lhe conferiu diversos prêmios, como por exemplo, o Prêmio José Saramago por Sinfonia em branco (2001). Lançou seu primeiro livro de poemas, Parte da paisagem, em 2014, porém, segundo a autora, alguns dos poemas que compõem a obra já haviam sido publicados anteriormente com outros títulos e em versões pouco diferentes em jornais e revistas. Até o início da pesquisa, as referências críticas sobre a obra poética da autora eram pequenas, nesse sentido, buscou-se analisar a obra de Lisboa pelo mapeamento de aspectos estético-formais e temáticos e suas relações com a subjetividade lírica. A pesquisa ancorou-se, por um lado, em teorias e crítica do texto poético, de diferentes abordagens e, de outro, em reflexões filosóficas e sociológicas sobre o contemporâneo e a modernidade líquida. Por meio das análises dos poemas, percebeu-se que a obra se alinha a um complexo de valores e práticas que balizam a desconstrução de paradigmas, o colapso de verdades e certezas, ao mesmo tempo em que indicam a provisoriedade e liquidez como moeda de troca da experiência sensível do que vem sendo denominado de “modernidade líquida” (BAUMAM, 2001). Dessa vivência, o eu lírico, como aponta o título, constitui-se “parte”, no sentido de uma aderência compulsória ao estrato histórico, bem como “parte” em relação a sua natureza fragmentada, que promove uma conexão frágil entre percepções estéticas, laços afetivos, problematização sobre o tempo, entre outras questões. Percebeu-se, também, que os poemas que compõem Parte da paisagem (2014), constituem-se como fragmentos e imagens recolhidas pelo eu lírico ao retomar memórias de tempos findos, numa espécie de colheita de fatos que lhe marcaram e que integram a parte da paisagem. Outro ponto interessante que merece ser destacado é o fato de o eu lírico, em diversos poemas da obra, utilizar da linguagem corporal, aliando-se aos sentidos, por meio dos olhos, dos ouvidos, da boca e da pele, para estabelecer no leitor sensações e promover a cumplicidade para com a parte da paisagem retratada.