Última alteração: 2016-08-04
Resumo
A presente investigação parte dos estudos das transformações sociais que marcaram o fim do mundo romano, período que a historiografia definiu como Antiguidade Tardia, e teve como objetivo analisar como Santo Atanásio (295-373), bispo de Alexandria do Egito, defendeu a ortodoxia católica frente a imperadores (poder civil) e adversários cristãos (poder eclesiástico). Para responder as questões levantadas foram privilegiadas como fontes históricas as Apologias de Santo Atanásio. Para a análise dessas fontes, a pesquisa se sustentou em uma metodologia que contempla a necessidade de compreender a organização dessa sociedade como base sobre o qual se fundamenta o pensamento teológico, logo, o seu pensamento foi tomado como histórico, elaborado para responder aos problemas de seu tempo; seu vigor depende da subsistência das relações sociais que o moldaram, ou seja, compreende-se a base da história intelectual ou teológica como decorrente da estrutura social, e não como simples sistema de ideias. Observou-se que, na medida em que o cristianismo foi se institucionalizando, configurando-se como religião dogmática, teve de enfrentar grupos de cristãos que, contraditoriamente, se formaram como aquilo que se convencionou definir pejorativamente como heterodoxos, e tais lutas internas só puderam ser resolvidas com o apoio do poder temporal. Apesar da particularidade das Apologias, e ainda que em linhas gerais estas se centralizaram nas preocupações do autor em direcionar um tipo de defesa da ortodoxia, a sua tese da consubstancialidade divina, e de como o império cristão deveria ser fiel a tal definição dogmática, ficou evidente um Santo Atanásio preocupado em estabelecer a diferenciação entre ortodoxia e heterodoxia diante da teocracia que se estabelecia. Dentro desse processo, o emergir do pensamento do antigo bispo de Alexandria configurou-se em uma nova proposta ao elaborar uma forma de crença tida como dogmática – como foi, por exemplo, o seu importante papel na defesa do Credo niceno –, fundamental para o cristianismo em seu processo de consolidação no fim do mundo antigo e início da Idade Média, sobretudo, no momento em que essa religião assumiu o controle dos homens no ocaso do Império Romano.