Última alteração: 2016-08-02
Resumo
O presente trabalho objetiva analisar o discurso sobre a escravidão em Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, publicado em 1859, primeiro romance de temática antiescravista da literatura brasileira, escrito em pleno processo de consolidação da identidade nacional de um país que se construía em bases conservadoras. Com efeito, a obra apresenta os personagens escravizados em perspectiva humanizada, e, portanto, diferencia-se da visão tradicional dos negros na sociedade escravista: a de objeto. Consideramos, outrossim, a sua primazia enquanto romance de autoria feminina e o lugar social da autora, uma mulher mulata e de parcos recursos, em uma sociedade, não obstante marcada pelo patriarcado. Dessa forma, discute-se a priori, as relações entre Literatura de História e as marcas históricas da formação do cânone literário brasileiro, hegemonicamente masculino e branco. Destarte, optou-se por estabelecer uma comparação entre o discurso antiescravista de Úrsula, que humaniza os/as escravos/as com duas obras posteriores escritas no bojo do movimento abolicionista: Vitimas-Algozes, de Joaquim Manuel de Macedo (1869), e A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães (1875). Estes dois, enquanto homens brancos e ligados à corte do Rio de Janeiro, apesar de favoráveis à abolição, representam a população negra, reproduzindo a imagem do negro e da negra circulante entre as elites brasileiras do século XIX, que atribuíam para esta população características degeneradas, Busca-se, portanto, demonstrar que diferença da abordagem dos autores e da autora é correlata diretamente ao local de fala de cada um.
Palavras-chave: Relação entre Literatura e História. Maria Firmina dos Reis. Representação das personagens negras.