Este trabalho teve como objetivo analisar a relação entre literatura e historia no conto “Quando a porta se abre”, que integra a coletânea Hóspede Secreto, publicada em 2002, pelo escritor paranaense contemporâneo Miguel Sanches Neto. Para isso, a metodologia de trabalho deu-se a partir da leitura da obra e da seleção do conto para analise. Após, foram lidos alguns artigos sobre a teoria da narrativa, a relação entre literatura e historia e sobre a obra do autor para fundamentar a análise. Diversos estudos tentam compreender a relação entre á historia e a ficção, tudo isso porque a história sempre representou os infinitos acontecimentos relacionados ao homem; já a ficção tende sempre a modificar os fatos históricos, reconstruindo as histórias de acordo com a imaginação do autor, que é capaz de dar um novo significado à realidade. Os personagens dos contos, ligados pela naturalidade comum, nasceram em Peabiru, cidade interiorana do Paraná, onde o autor passou grande parte da infância e da adolescência, se agarram às lembranças e aos reencontros frustrantes, de forma extremamente lírica. O conto “Quando a porta se abre”, corpus desse estudo, ocupa-se em narrar a triste história da esposa do narrador-personagem, que tem pesadelos frequentes, mas não conta ao marido, pois teme que, se lhe contar o que ocorre enquanto dorme, o narrador também entre no território do terror, e quando ela acordar ele não seja mais um porto seguro para confortá-la. Mesmo a esposa não revelando do que se tratam seus traumas de infância, o narrador, com o passar dos anos de casamento, vai desvendando pequenos episódios da vida da esposa. Nesse conto, assim como em outros da coletânea, as personagens emergem de um mundo rural e, ao inserirem-se na cidade grande, sentem-se deslocadas e sem raízes, mergulhadas em uma condição pós-moderna, que as impedem de encontrarem suas identidades. Nesse sentido, o autor capta em sua obra esses momentos únicos nos quais as personagens estão vivendo alguma situação de conflito advinda da inadaptação a um novo mundo, diferente das suas raízes rurais. Com efeito, o autor aborda o processo histórico de profundas transformações, levando-nos à conclusão de que a literatura não é apenas um fenômeno estético, é também uma manifestação cultural, que se configura como possibilidade de registro da trajetória humana e existencial.