Última alteração: 2015-11-18
Resumo
Segundo Marc Bloch (2001), o estudo da História é fundamental para que a humanidade não perca sua própria memória. Por sua vez, Bosi (2014) aponta que a Arte e a História sempre caminharam no mesmo sentido, em especial a Literatura, pois ela condensa em si os maiores ímpetos, carências e conflitos da época a qual foi escrita. Logo, um olhar sobre a história se torna essencial para a compreensão de uma obra literária e, em determinado momento, a própria obra de arte se torna um documento de seu tempo, podendo ser fonte de investigação histórica. Miguel de Cervantes é considerado um dos pensadores clássicos consagrados por ser a síntese de sua época, e mais do que isso, crítico da mesma. Conseguiu sentir e transmitir por meio de suas palavras, ao longo de sua obra Dom Quixote de la Mancha, escrito em 1605 e 1615, todas as carências e excessos do homem que, há pouco medieval, já inaugurava, a passos largos, os tempos modernos – e é justamente isso que essa pesquisa e análise busca compreender. Além da leitura e análise de Dom Quixote, para produzir esta pesquisa nos fundamentamos em Bloch (2001), que aponta que o registro histórico é feito a partir de fragmentos do passado, que podem vir das mais diversas fontes, autores, formas e relatos. Em relação ao contexto histórico, foi utilizada a leitura e fichamento de algumas obras, dentre elas Tirant lo Blanc, de Joanot Martorel e Para Compreender a Ciência, de Maria Amália Andery, que nos deu base para entender como se deu a transição da Idade Média para a Idade Moderna. Constatou-se que através do anacronismo do protagonista, Cervantes constrói e desconstrói, através de seu herói, uma via de mão dupla: paródia e ode. Dialogando-se com as novelas de cavalaria, ele faz paródia das mesmas (pela sua decadência na época), mas ode a certas características medievais há muito não nutridas. Dom Quixote encarna o próprio espírito romântico: inspirando-se no medievo, com muito saudosismo, é um anti-herói que peca por ser humano, demasiadamente humano, e por isso expressa as dimensões modestas e as fragilidades da condição do homem, e por vezes reconhece-se inadequado para a realidade, mas ainda assim resiste e luta pelo seu ideal – é aí que está seu heroísmo, e com ele, o agente transformador da realidade: o impulso da vontade.