Última alteração: 2015-11-18
Resumo
O encenador canadense Robert Lepage, hoje considerado um dos maiores nomes do teatro contemporâneo mundial, iniciou suas atividades criativas no final da década de 70. Já em seus primeiros trabalhos, Lepage apresenta uma encenação que privilegia a relação de diferentes elementos e estilos em detrimento da soberania do texto. Este trabalho pretende investigar como esses elementos são colocados em relação quando sua tessitura de linguagens ainda não existe, mas está em processo de construção. Para tanto, se realizará um estudo das experiências formativas de Robert Lepage e sua relação com a criação da “Trilogia dos Dragões”, espetáculo que, segundo Aleksandar Sasa Dundjerovic, marca o final do período de aprendizagem de Lepage. Entre 1978 e 1989, após se formar no Conservatoire d’art dramatique de Quebec, Robert Lepage participou de quatro experiências que foram decisivas para a construção de sua poética, são elas: O Workshop de Alain Knapp, que focava em fornecer mecanismos que habilitavam o ator a ser o criador absoluto da performance. A Ligue Nationale d’Improvisation (LNI), que focava na construção da interpretação a partir de jogos de improvisação. A direção de espetáculos para o Marionnettes du grand théâtre de Québec, onde Lepage entrou em contato com o inanimado e com as regras que regem esse universo e por último a utilização dos Ciclos Repère dentro do grupo Teatro Repère, que tinha como fase inicial a escolha de um recurso, algo com o qual o ator possuísse uma ligação afetiva que serviria como disparador criativo. Por mais que, ao longo dos anos que se seguiram à sua saída do Teatro Repère, Lepage tenha desenvolvido outras formas de trabalho, a noção de recurso parece ter acompanhado o encenador até os dias atuais e ao analisar obras de diferentes períodos de sua carreira, pode-se verificar uma reincidência na forma de utilização dos recursos que está relacionada à proposição dos recursos, pelo encenador (recursos primários), pelos atores (secundários) e em decorrência do desenvolvimento dramatúrgico (terciários) e a forma de exploração dos recursos; pelas suas simbologias (exploração estrutural) e por seus aspectos formais como cor, movimento e forma (exploração material). Conclui-se assim que a criação dramatúrgica de Robert Lepage, têm como principal eixo a relação dos artistas criadores com seus recursos partindo das diferences nuances que essa relação pode assumir.